o que vamos fazer com essa tal autoridade.
- Helena Argolo
- 20 de abr.
- 2 min de leitura
Em 1999, dois psicólogos americanos, Dunning e Kruger, definiram um fenômeno moderno que observou como pessoas muito confiantes em suas habilidades, normalmente, ignoravam sobre a própria ignorância.
Ou seja: quem menos sabe, fala com mais convicção — e quem mais sabe, duvida.
Esse efeito é o paradoxo cognitivo da nossa era: quanto menos preparo no indivíduo, mais certeza se observa na fala dele.
Por outro lado, quanto mais consciência, mais humildade se vê.
Se a gente pensar direitinho, isso nem é novidade: Sócrates já contou, no século V a.C., que ignorar é o ponto de partida para acessar o conhecimento.“Só sei que nada sei”.
Reconhecer que a propriedade e domínio sobre um tema – ou, para usar a palavra das Redes, a autoridade – se assemelha mais ao gesto de cuidar do que com a ânsia de convencer vale pra muitos discursos: no debate público, onde uma série de certezas rasas se espalham como verdades absolutas; nas redes sociais, onde o teatro grita e a escuta só rareia; e até nas relações pessoais, onde o indivíduo se afoga na ânsia de saber tudo, dar conta de tudo e dizer a coisa certa o tempo todo.
Talvez o saber — o de verdade — esteja no silêncio da convicção interior de que o conhecimento é sempre incompleto, transitório e sujeito a revisão, de que escutar é parte essencial do processo de saber, e que o mundo é mais complexo do que qualquer fórmula pronta embrulhada em branding, copywriting e alguns gatilhos mentais (ou traduzindo, em muito suco verde publicitário).
Na consciência tranquila de quem não precisa (nem deseja) provar o tempo todo que sabe.
A autoridade real que precisamos resgatar é essa: a do saber que não se apressa em opinar, que observa antes de reagir e que põe em seu devido pedestal de porta de entrada para o conhecimento ela, a dúvida.




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